sábado, 26 de julho de 2008

ângulos

Abriu a janela que ficava em frente à sua escrivaninha com força,estava no meio da madrugada tentando entender aquela maldita matéria que poderia comprometer todo o seu desenvolvimento naquele ano letivo.Dava murros na mesa,enfiou a cabeça no meio do travisseiro e gritava...como se fosse incapaz de entender tudo aquilo como se exigisse demais de si mesmo,era apenas um surto (bem barulhento) e passou depois de uns quinze minutos quando voltou a si e tirou os óculos ao mesmo tempo que apagava a luz da escrivaninha para aproveitar as ultimas horas de sono que lhe restavam com a sirene de polícia que se aproximava como se fosse uma canção de ninar.

Foi acordada por um barulho estranho,subito,forte e alto."É um assalto",pulou da cama e foi checar todos os cadeados de sua casa,incluindo os das janelas,"nenhum marginal drogado vai entrar na minha casa".Com o taco de baseball em punho sentou-se na sua cama no escuro ainda e esperou anciosa por alguém que quisesse invadir sua casa.Ouviu chingamentos horriveis vindos do apartamento de baixo,uma voz meio abafada "assassinato!"ela pensou consigo.Esperou mais alguns instantes e enquanto acabava de discar o número da polícia ouviu as janelas se fechando com muito mais calma do que foram abertas.Deu o endereço e esperou debaixo das cobertas alguma coisa.

Estava na sua sacada fumando o terceiro cigarro seguido,de samba-canção e ouvindo o latido distante de algum cachorro com fome.Uma janela abriu de subito no prédio da frente,um rapaz jovem que ele nunca vira na vida andava de um lado para o outro fazendo gestos como se estivesse discutindo com alguém."Haha,todo mundo fica zangado quando 'falha' naquela hora não é,meu rapaz?!'.Com um ar sarcástico e um sorriso no rosto acompanhou a agonia do rapaz do apartamento da frente até que as luzes se apagaram,a janela foi fechada enquanto um carro de polícia virava a esquina à algumas quadras dali.

Teria sido uma ótima noite de sono se não fosse por uma janela que se abriu com raiva no prédio da frente,ela abriu bem de leve o olho esquerdo,sonolenta mas atenta a qualquer outro barulho que viesse em seguida,ouviu uma voz de homem e uns palavrões.Na ponta dos pés foi discretamente observar por uma fresta na cortina o que acontecia do outro lado da rua "Oh,é aquele bonitinho,que outro dia mesmo vi se mudando pra cá" olhou o horário no relógio em cima do criado mudo "hahaha tomara que esteja terminando com a namorada".Tinha uma visão parcial do rapaz que andava de um lado pro outro frenéticamente esmurrando a mesa,dando uma mordida no lábio inferior proferiu "haha adoro caras selvagens!".De repente tudo ficou quieto,as luzes se apagarem e a janela foi fechada com delicadeza,"Merda,eles se entenderam",fechou a cortina com um ar de desapontamento dando passos vagarosos em direção a cama até que ouviu a sirene da polícia "Ou não..hahaha".

Como sempre,carregava os jornais recém impressos para abrir a banca quando ouviu um rapaz com raiva abrindo a janela do prédio que ficava a poucos passos dali,olhou para cima "Ah,é o rapaz novo",palavras horríveis sairam daquela janela e a sombra do rapaz indo e vindo de um lado para o outro aparecia claramente na calçada."Drogas,é isso...só pode ser isso.Tudo nesse páis é culpa das drogas e desses jovens que não conseguem..."foi interrompido pela sirene da polícia no começo da rua e se apressou para abrir a banca e se refugiar lá dentro.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

salto alto

Tinha uma festa pra ir,ela nunca tinha comprado um sapato de salto alto na sua vida e a sua habilidade para andar sobre eles era tão grande quanto a de um cachorro andando de bicicleta.
Não importava,estava empolgada.Experimentou dezenas de pares de sapatos com saltos de várias alturas,tentava se adaptar e jurava pra mãe que conseguiria andar com um maior do que aquele de 5 cm mas a dona do cartão de crédito fez cara feia e depois de três passos ela mesma se convenceu de que o de 5 cm estava perfeito.
Foi à festa,conseguiu se locomover perfeitamente (com alguns tropeços delicados uma hora ou outra) e foi bom.
Voltou para casa tirou os sapatos e respirou orgulhosa,como se tivesse domado um cavalo bravo,os guardou de volta na caixa e foi deitar.No dia seguinte tinha escola,e na hora certa despertou se trocou,colocou seu tênis e foi pra aula.Na verdade,ela amava todos os seus pares de tênis,é confortável na verdade...enquanto aqueles saltos ficavam guardados na caixa.
De vez em quando,com o passar dos meses ela colocava aqueles sapatos e ficava admirando seus pés no espelho.Mas ao mesmo tempo em que aqueles sapatos a faziam sentir-se bem,eles mostravam que o tempo estava passando.Que agora não ficava muito frouxo como os de sua mãe quando ela era mais nova,os sapatos estavam lá bem juntos aos pés dela.Eram dela.Quando se deu conta disso,arrancou dos seus pés como se os machucassem jogou de volta para dentro da caixa e colocou seu tênis.