quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O abajour se tornou meu sol. Não havia nuvens em meu quarto pálido.
Ao som minimalista da orquestra rodoviária, meus pensamentos eram embalados em pacotes de papel pardo e mandados para longe. Onde, quando alguém o recebesse, iria abrir e sorrir com apenas um canto da boca e pensaria em mim por uns 10 minutos. Já era suficiente.
Mesmo no inverno, gosto de deixar uma perna para fora do cobertor, gelada. É incrível sentir duas coisas ao mesmo tempo, mesmo agora, me sinto feliz e melancólica e não sei aonde quero chegar com esse papo mole.
Acho que não quero ir a lugar algum, tenho meu sol bem em cima do meu criado mudo, que está ao meu lado. Os outros planetas giram no teto do meu quarto, um ao redor do outro e gosto de acompanha-los com os olhos. Por que há necessidade de se ter um ponto fixo em um raciocínio? Eu raciocino em função do agora. Creio que chove de leve lá fora, ou talvez tenha sido algum outro instrumento que despertou no meio da música.
Em certo momento minha cama parece estar à deriva, com movimentos leves e tranquilos. Sempre imaginei isso quando criança, antes de dormir... que minha cama estava à deriva, à noite. Claro, porque já disse...meu sol é meu abajour e o alcance de iluminação dele se limita ao meu conforto. E meu conforto no momento não passa da sensação que se tem quando se abraça a toalha quentinha que foi deixada no sol, aguardando que eu saísse da piscina.
Agora é que me veio à cabeça, onde estarão meus sapatos que estavam guardados debaixo da cama? Se bem que não pode se chamar de guardado uma coisa que foi apenas empurrada pra um lugar escuro, fora do campo de visão. Meus sapatos não estavam guardados mas sim no aguardo. No aguardo do surgimento dos meus calcanhares pra fora da cama, no aguardo de serem puxados apressadamente para a claridade do abajour e serem calçados. Mas no momento prefiro ficar descalça, observando meus pés se moverem ao som da música (são bons dançarinos quando não estão se movendo com o resto do meu corpo).
Apesar dos meus dedos não agirem, os obrigo a se moverem, escrevendo.
Parece que minha mente se recusa a abrir, mede cada palavra que desperta com despreso.
Só o fato de ter começado dessa forma já me enoja...sempre que começo um texto é explicando que não sei sobre o que vou dissertar mas mesmo assim acabo fazendo e apago o começo onde explicava tal coisa.
Na realidade, o que realmente surgem à minha mente são frases e situações soltas...
Hoje por exemplo, me veio sobre a morte de alguém. Alguém que quisesse ser enterrado com flores sobre os olhos. Sempre anoto esse tipo de coisa pra tentar agrupar tudo algum dia, só que esse dia não chegou ainda.
O que é mais certo ainda, é que odeio escrever sobre mim. Assim, diretamente...odeio muito então não vejo motivos pra continuar escrevendo essa merda aqui.
Daqui a pouco eu volto e escrevo outra coisa.