segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

-Tudo bem?

Tudo bem? Então é assim que me pergunta, com essa cara fosca e esse olhar sem anseios? Quer mesmo saber o que se passar ou me pergunta por inescrupuloso polimento da nossa convivência?
Percebo que não quer me responder, não é? Tudo bem. TUDO BEM.
Insiste não com palavras mas parado a minha frente esperando uma resposta não é? O que? Esperava apenas por um 'sim, estou bem...e você?' se arrependeu agora? Pois sim! Agora é que vai ouvir, lhe direi detalhadamente como anda meu espirito, como perambula por entre as cortinas espessas dos meus pensamentos , como corre de um quintal para outro quintal repercutindo no meu dia a dia e até o motivo por qual lhe falo dessa forma.
Sim, lhe direi tudo...sem pestanejar, sem pausas, com todos o detalhamento que é devido. Eu vou te dizer sim, com o dedo na sua fuça se for necessário, se assim me convir. Te intupirei com minhas indagações sobre a vida e como me sinto perante todas as pessoas, todos os meus amigos. Direi até, se quiser ouvir...meus segredos. Se isso for esclarecedor de alguma forma para a tua pessoa, porque pela sua cara já não está te agradando...NÃO! Não diga nada. Se me perguntou uma vez como estou, se estou bem...agora ouça. E vai ter de ouvir tudo, sem gaguejar desculpas para se retirar nem fingir que tem hora marcada em algum lugar, pois aí sim, terá um motivo pra ter se arrependido. Ah, mas você pode fazer pior...pode sim. Falso interesse...acho que essa foi sua primeira motivação ao me perguntar isso, estou errada? Ora, nada tenho contra a tua pessoa...mas não se pode fingir uma coisa dessas, vê...se fingir se interessar pelo o que digo e não for verdadeiro - olha que percebo isso, seu imundo - VAIS TER UM PROBLEMA DE VERDADE.
Sim, terás. Pois não estou aqui de palhaço, nem para matar teu tempo...ora. Se me faz uma pergunta, é porque quer saber. Embora normalmente as pessoas extraiam as informações que desejam, impiedosamente como uma seringa que penetra no seu corpo, aparentemente para o seu bem e é retirado precisamente a informação necessária. Obviamente a informação não está na resposta para a pergunta sobre a sua realidade, a pergunta 'tudo bem?', o 'tudo bem' é apenas um pretexto, é só para não evidenciar a usurpação de quem pergunta.
Veja, mas mesmo assim, se ainda quer saber o que se passa comigo não leve a mal todas essas minhas indagações...não é voluntário. Estou me protegendo e te protegendo também. Protegendo-nos de nós mesmos. Ora, vejo que ficou impaciente...não fique. Quero muito conversar com você e dividir minhas aflições. Mas o momento agora não me parece bom...adeus.

domingo, 8 de novembro de 2009

-Ah, é que quando a gente se conheceu, enfim, você se lembra? Bom...eu não sei, foi um tempo bom pra mim...am...er...acho que é por que era Verão.Eu gosto do calor, às vezes, sabe...foi quando a gente se conheceu e tal...eu comecei a ficar mais feliz, minhas notas no colégio melhoraram e am...eu não sei bem por que foi que eu fiquei mais feliz aquela época, sabe...foi quando eu ganhei aquele livro do meu pai, éé...deve ter sido por causa do livro, eu lembro que fui te mostrar em seguida e você estava lá e am...era um livro muito bom.
-É, eu me lembro.
-Ah, você se lembra...bom, que ótimo.Você consegue imaginar o por que da minha felicidade? Ah eu não sei bem, de um tempo pra cá tenho sorrido mais e cantarolado enquanto faço minhas coisas hahahaha é uma coisa bem à toa, eu lembro de você com certa frequência, sabe...das coisas que nós conversamos , de um tempo pra cá...eu...bom...
-É, eu notei. Tenho ficado feliz também.
-Sério? Acho que é o clima, definitivamente...os dias estão bonitos e creio que...
-Acho que é porque a gente se ama.

domingo, 1 de novembro de 2009

Hoje eu vou relatar um sonho que tive essa noite e que foi no mínimo intrigante.

A cena que dou como o 'começo do sonho' aconteceu em uma vila que ficava em um campo verde, as casas se estendiam por entre e sobre as montanhas, não eram muitas...eu estava na varanda de uma delas, de frente para um lago e me lembro de ficar preocupada sobre apreciar aquilo depressa porque tinha que ir embora...
A outra cena já se passava dentro de uma casa (deduzi que era a casa da varanda em que estava) e eu abria as gavetas de uma cômoda procurando minhas coisas pra ir embora, tinha alguém junto comigo mas eu não me lembro quem era...até que eu achei um baú com muitos brinquedos da minha infância.Eu peguei um por um e abracei cada um deles, mesmo sabendo que eu estava atrasada para partir...minha mãe entrou no quarto e me avisou para andar logo e eu o fiz.
Depois disso me vi andando descalça com alguém numa estrada de terra fofa, conversando sobre qualquer coisa quando eu vejo um chave antiga no chão e no mesmo momento que eu fui pegar a chave pra guardar apareceu um menininho de mais ou menos uns sete anos me perguntando se eu tinha visto a chave do celeiro dos quadrúpedes (sim, ele disse isso) aí eu peguei a chave que estava no chão e achei mais outra, uma chave nova e dei as duas a ele, que foi embora.
Após essa parte do sonho, eu estava dentro da casa desse menininho ( que se chamava Estevan) fazendo carinho em sua cabeça e ele me abraçava muito, teve um momento em que ele me abraçou e soletrou algo ao meu ouvido, não consegui entender o que era...parecia que eu tinha que partir outra vez.Vi minha priminha em um canto da casa, sorrindo, a peguei no colo e mordi sua barriga depois a deixei no chão e fui embora para a casa da Bruna, minha amiga que tinha ido me buscar.Mas ao chegar lá a casa dela era uma mansão gigantesca com muitos corredores e escadas,havia muitas pessoas andando de um lado para o outro para irem para as suas casas, como se todas elas morassem naquela mansão...eu não reconheci ninguém. Até um momento em que a bruna me disse para irmos para o quarto dela e saiu andando na minha frente e eu tentei segui-la mas ela acabou se misturando às outras pessoas, fazendo com que eu a perdesse de vista...me perdi em sua casa.Andei mais um pouco, sozinha e chamando pelo o seu nome e encontrei uma escada muito alta e resolvi descer por lá, mas os degraus eram extremamente altos e com um piso muito curto, o que dificultou muito a minha descida mas mesmo assim eu fui...haviam crianças descendo junto comigo.Quando finalmente faltavam poucos degraus para eu terminar de descer a Kakau aparece, chegou ofegante e parecia que tinha vindo correndo ao meu encontro e descia por uma escada muito mais simples...eu sai da escada que percorria e terminei a descia em sua companhia.Quando chegamos lá em baixo, encontramos meu irmão e fomos pra um lugar com muitas lojas, de uma delas minha mãe saiu e ficamos juntos.

aí eu acordei haha

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Eis que tenho uma má notícia, que me foi contada de sopetão sem questionar se queria ser ouvida.Entrou pelos meus ouvidos e parece que lateja nos caminhos e vertentes de minha mente tentando encontrar, em vão, a saída.
Eis que tenho uma má notícia, desmoronei em cima de mim mesma, agora nem sei mais o que se passa.
Eis que tenho uma má notícia, não consigo sentir dor apesar de tudo isso.Devia? Parece que a sensação de desnorteamento seria a mais provável na posição em que me encontro mas quanto mais me dou conta dos fatos mais me sinto em meu lugar.Em meu lugar dentro de mim, sem questionamento.

sábado, 17 de outubro de 2009

Ah...você sabe disso.Ele não me dá a mesma importancia que eu dou a ele...ele provavelmente não pensa em mim e nem sequer sabe se meu cabelo é liso ou tem cachos.
Talvez não saiba e nem se importe em saber, com certeza me misturo totalmente à multidão quando ele passa o olho por ela, não chamo sua atenção, não atiço sua curiosidade.
Me acha sem graça, sem personalidade, cinza.
Não dá continuidade às minhas conversas, acha minha idéia fraca, pensa sozinho que eu não tenho talento algum pra nada e queira se ver livre de minha presença o quanto antes sem nem saber se conclui minhas frases ou não, parar a discussão extremamente leviana no meio e me mandar à merda.
É,eu acho que é isso...e você também sempre soube disso, por que não me disse?
Ah, eu disse antes, você só concordou.
Eu sei...eu sei.
Acho que vou ligar pra ele hoje.
É,eu sei que estou errada...sempre soube.
Mas o que posso fazer?Estar errada me deu tempo, me criou uma situação comoda apesar de não o ser para os outros.
Mas desde quando descobri que estava realmente errada e não certa dentro de outro contexto?Bom...eu não sei.Pode ser que eu descubra mais tarde, mas deixa pra mais tarde.
Alias, quero discutir isso.Não estive tão errada assim, visto que fiz o que tinha que ser feito e se problemas surgiram agora foram por conta de coisas boas que aconteceram antes.Enquanto essas coisas boas aconteciam num tinha nada de errado...
Tudo que é errado já foi certo alguma vez?Se já foi certo, se distorceu?
Se distorceu por conta de ser certo demais? Por que a coisa certa se tornou errada?
Por que o agradável se tornou dor de cabeça, lágrimas, suspiros de preocupação?
Por que eu deixei? Não,creio que não.Não acho que seja uma coisa que dependa de mim.
As coisas certas tomam um rumo errado por si só então.
Sim, eu sei...estou fugindo.
Creio que é da natureza humana distorcer o que é agradável, causar o caos, ver o circo pegar fogo.Como um exemplo simples podemos ver crianças brincando, em algum momento a boneca de uma está sem cabelo, a da outra sem um olho, os outros dois se batem por causa do mesmo carrinho e por aí vai.Eis o prazer...o prazer...o prazer em que?Como se denomina esse tipo de sentimento?Eu não sei...só sei que não consigo manter as coisas direito.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

'Como, diabos, pode um homem gostar de ser acordado às 6h30 da manhã por um despertador, sair da cama, vestir-se, alimentar-se à força, cagar, mijar, escovar os dentes e os cabelos, enfrentar um tráfego para chegar a um lugar onde essencialmente o que fará é encher de dinheiro os bolsos de outro sujeito e ainda por cima ser obrigado a mostrar gratidão por receber essa oportunidade?'
Buk,Factótum.


muito bom,muito bom...

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Viajar à noite.
Obrigar-se a tomar um banho de chuva sozinho.
Colocar o rosto para fora da janela com o carro em movimento.
Pular em uma cama elástica.

Tentar lavar,inutilmente,a sua alma.Como se suas aflições se esvaissem com a água na sarjeta,com o vento pelo fim da estrada,com a escuridão.
Até que os vagalumes começam a aparecer,seus dedos estão tão frios que não consegue mais senti-los e seu cabelo esteja totalmente emaranhado.
Você ainda está só,ainda tem suas aflições,mas está limpo.Limpo de tal forma que seu corpo se torna mais leve e seus passos já se formam de outra maneira,para outro caminho talvez.
Limpo,temporariamente.Seus pensamentos não se tornam nada além de um grande suspiro...um suspiro infinito para aquele momento.Limpo,um suspiro macio sem hesitações.Um suspiro que não tem de ser esperançoso,apenas limpo.
Uma solidão necessária.Para que o suspiro ecoe num mundo só seu,onde só você o ouça e até o veja.
Um suspiro azul que lhe enxe o peito e mesmo depois de esvaziá-lo parece que continua lá.É,talvez ele esteja sempre lá...guardado

domingo, 20 de setembro de 2009

Sei lá,t odo mundo que eu conheço tem parecido tão competitivo aos meus ouvidos ultimamente.Tenho me sentindo realmente desconfortável no meio dos meus próprios amigos por conta disso, tudo é motivo pra crítica pejorativa ou observações banais que eu nem sequer pedi...
Pessoas que falam demais, se movimentam rápido demais, sabem demais ou sabem de tudo realmente estão me atazanando
Talvez seja realmente o momento certo pra eu dizer à eles "Desculpem-me caros senhores que de tudo sabem, tenho que me recolher à minha insignificancia".
Insignificancia...é esse o ponto.Eu sou o suficientemente significativa pra mim, e talvez para uma ou outra pessoa também e sinceramente isso já me é o bastante...diferente dos que convivo que precisam mostrar à todo instante o quão bons eles são em tudo que fazem e dizem...sabe, eu realmente não me importo em me vangloriar por nada.Admito em dizer que antes eu até me importava, mas hoje não mais.Se ouço alguma calúnia ser dita, me calo e me divirto sozinha com a mediocridade de quem disse, não me dou ao trabalho de 'ensinar' ou mostrar pra pessoa o quão errada ela está e até expo-la ao ridículo...não, não faço isso.
Dentro da minha mente eu me divirto sozinha, sei o que sou e tenho uma leve noção de tudo que sei, isso já é mais do que o suficiente.Pra mim, é claro...é estranho, soa como se eu estivesse me vangloriando por algo, o que poria toda essa discussão por terra já que eu estou criticando exatamente isso...não estou me vangloriando, apenas me explicando sei lá por qual motivo.Enfim, ou sou insuportávelmente inteligente nesse contexto ou agradabilíssimamente burra.Ao meu ver, claro.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

um ponto de vista é apenas uma visão de um ponto.
Tem tantos outros...

sábado, 5 de setembro de 2009

Nosso diálogo começou quando te chamei pra sair você fez aquela careta.Não exatamente aquela careta,fez uma que eu vi poucas vezes,com a boca mais puxada para à esquerda,o nariz e os olhos sem mudar de forma e uma das sombrancelhas levantadas.Insisti.Você coçou a cabeça e murmurou alguma coisa,fiz manha e você hesitou um pouco,logo depois de ter dado aquele suspiro longo e preguiçoso sorrindo no final,e com uma voz morna proferiu alguma reclamaçãozinha demonstrando um certo tipo de desânimo,eu sabia bem que não era desânimo própriamente dito por causa do sorriso que você deu,por ter abaixado pra beijar minha cabeça.Cantarolou alguma coisa,brincando com meus cachos logo em seguida e indo comigo.

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Mudança faz parte da vida.É uma coisa pela qual o ser humano está um tanto quanto habituado e não tem como nem por que lutar contra as mudanças,que surgem das mais variadas formas e acontecem repentinamente ou não.Já havia passado muitas vezes pela experiência de notar mudanças em um espaço longo de tempo,quando se reflete sobre tudo que aconteceu e suspira no final,nesse caso a mudança acontece devagar e preguiçosamente e você só nota quando o vento sopra diferente sobre o seu rosto.
Mas meu questionamento central hoje não é esse,é exatamente o inverso.Quando a mudança surge de repente na frente dos teus olhos,aparece na porta da sua casa e te faz abrir os olhos.É quando você sente que está passando por algo,que vai alcançar alguma coisa mas só não sabe o que.Como se estivesse num quarto escuro e começassem a te levantar sem motivo,você não entende nada e só continua subindo sem rumo.Subindo pro céu,pras nuvens,pras estrelhas,para o nada.Se bem que nem importa,o deleite da subida já é o suficiente,a vertigem que sente ao olhar pra baixo é muito mais valiosa do que a sensação de dormir no início e só abrir os olhos no fim da viagem.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"Sentaram-se os dois num dos degraus e ficaram olhando a noite.Fechavam-se as portas do teatro,apagavam-se as luzes do pórtico.Olívia encostou o diploma no olho esquerdo,à maneira de binóculo,fechou o olho direito e ficou a mirar o céu.
-Que estarão fazendo lá na Lua a esta hora?
Eugênio transformou também o diploma em binóculo e assestou-o para a Lua:
-Sabes o que estou vendo lá em cima?Uma moça e um rapaz que acabaram de ganhar seus diplomas e não sabem o que é que vão fazer com eles.
-Deixa disso.Na Lua não há diplomas.Sabes o que é que eu vejo?A moça está com um vestido emprestado.
Eugênio sorriu,fingiu graduar o binóculo:
-Olha,o smoking dele é alugado...
Era estranho...Julgava-se incapaz de fazer aquela confissão a quem quer que fosse.No entanto fazia-a espontaneamente à Olívia,sem corar,sem se sentir diminuído"
Olhai os lírios do campo,Erico Veríssimo

domingo, 2 de agosto de 2009

"E agora?"
É,foi o que eu me perguntei quando você passou e piscou pra mim,sem que eu esperasse...
Piscou,e não foi apenas uma piscadela...foi o ínicio ou a continuação de alguma coisa que estava guardada em mim e que eu não acreditei que eu iria assumir algum dia.
Me senti preenchida novamente,senti que pertencia a alguém.
Conseguia ouvir os grilos cantando de novo,prestava atenção ao colorido das roupas das pessoas e me sentia bem.
Mas...e agora?Não sei se você vai voltar,e não sei se quero que volte...
Poderia ficar sonhando sempre com aquele instante sem que me encomodassem,sonhando sempre com o que poderia ter sido,me manter numa eterna nostalgia.
Soa como algo covarde,mas para mim é bastante confortável...
Confortável apenas para alguém covarde,na realidade.Mas não deixa de ser confortável...

domingo, 12 de julho de 2009

PARA DE ME PERSEGUIR!
gritou dessa vez,não aguentando mais aquela situação.Desde que ele apareceu em sua vida ela se sentia observada quando saia para dar uma volta sozinha à noite mas nunca foi um encomodo,sempre foi uma das melhores companhias que ela já teve.Mas agora não.Tinha certeza que todos os seus movimentos estavam sendo medidos,que os olhos que a acompanhavam agora não a penetravam mais,mas a dilaceravam em várias partes que iam ficando pela calçada e não havia absolutamente nada que ela pudesse fazer.Agora nem certeza de seu caminho ela tinha,totalmente atordoada pela observadora que cismava em lhe fixar a nuca,os ombros.Ela podia sentir.
Sentou-se no meio fio,tentou dialogar.Disse que antes não era desse jeito,disse que era algo importante para ela e que antes se sentia extremamente bem sendo observada assim.Disse que depois que ele foi embora nada mais foi igual,nada mais.Nem seus passeios,nem sua companheira e observadora íntima estão as mesmas.
Levantou de súbito,envolta por uma raiva descomunal e gritou de novo para que parasse de olhar pra ela e seguir seus passos.
Mas a Lua nunca realmente desistiu.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Não sabia bem se aquele momento era importante,mas sentiu o sangue circular mais rápido e a necessidade de ocupar suas mãos com alguma coisa.Não adianta,mas é mais confortável.Queria saber o que dizer em uma hora daquelas,ter uma reação programada e se sentir segura o suficiente para não chorar embora a vontade a apertasse e era tão desconfortável quanto uma coleira para um cachorro gordo.Aqueles segundos eram importantes,ela sabia de alguma forma.E a saudade depois?Como fica?Como seguiria sua vida,se ela estava subindo naquele ônibus e seu corpo ficando para trás?Porque era isso que ela parecia,apenas a pele e ossos quando o abraço terminou.
Despedidas assim acontecem a todo tempo,ela realmente estava acostumada a isso pois trabalhava naquela maldita estação de trem a uns anos...
Via os casais e gostava de se imaginar ali,na janela do trem que partia fazendo juras de amor para alguém que ficava.
Ela permanecia assim em transe,pensando nessas cenas até que alguém batesse no vidro do seu balcão para comprar um bilhete para algum lugar.

domingo, 28 de junho de 2009

"Lucille jamais me compreenderia; gosto de muitas coisas ao mesmo tempo, e me confundo inteiro e fico todo enrolado correndo de um destino falido para outro, até desistir. Assim é a noite, é isso o que ela faz com você;eu não tinha nada a oferecer a ninguém, a não ser a minha própria confusão."
Jack Kerouac , On The Road

domingo, 14 de junho de 2009

De que adianta se com o tempo meus pés se movem em direções e velocidade diferentes se em minha cabeça os pensamentos continuam se movendo na mesma velocidade e em circulos?
Talvez devesse andar de ponta cabeça e cochilar a maior parte do tempo,talvez fosse melhor.
Meu espírito e minhas memórias continuam as mesmas,indiferentemente do lugar onde eu esteja,eis o problema.Fugir de você tornou-se fugir de mim mesma.Fugir de uma história mal contada,parece que o doce foi tirado de minhas mãos antes de eu conseguir dar a primeira mordida.
E droga,como eu queria dar essa primeira mordida.
Quando me pergutam eu digo que estou bem,e realmente estou.Só me falta o desfecho para uma história que não criei sozinha.Sou criativa o suficiente para pensar em desfechos para várias situações,de todos os tipos...mas para esse pedaço da minha vida eu não sei o que pensar.Por mais que tenha se tornado previsível com o passar do tempo,é...eu não sei o que pensar.Mas penso que qualquer desfecho que aconteça,irá me agradar...vai me dar paz de uma vez por todas,é um paradigma.Quem disse que eu quero paz?Ter esse doce roubado de mim e ficarem ostentando ele bem na frente dos meus olhos se tornou um bom ponto para se fixar,admito.Eu gosto disso...apesar de tudo.Me faz pensar.É o tipo de dúvida que eu gosto de conviver,pode me chamar de masoquista se quiser,não tem problema.Houveram momentos em que eu quase alcancei,quase.Mas me foi empurrado pra longe novamente meu prêmio.
Queria concluir essa história não para sentir o sabor do doce ou pra me sentir melhor possuindo-o em minhas mãos.Mas para saciar minha curiosidade sobre esse maldito desfecho.

domingo, 31 de maio de 2009

Talvez se não tivesse tido aquele sonho e acordado no meio da madrugada suando,não beberia aquele copo d'agua e passaria o resto da noite em claro,e absorto em pensamentos,não iria me lembrar do que tinha que fazer.Talvez não saísse logo cedo,tão depressa a ponto de não recolher o jornal na frente de casa,talvez não estivesse com meias diferentes e o cabelo desarrumado,não teria escolhido ir de onibus ao invés de ir andando,não tivesse descoberto que o preço da passagem subiu e não teria ficado emburrado.Não teria tropeçado ao descer e nem teria desistido de continuar no meio do caminho.Talvez não estivesse sem dinheiro pra voltar e não seria obrigado a andar.Não teria te visto e minha noite não ganharia um significado diferente.

sábado, 9 de maio de 2009

"É este o problema com a bebida,pensei,enquanto me servia de um copo.Se acontece algo de mau,bebe-se para esquecer;se acontece algo de bom,bebe-se pra celebrar,e se nada acontece,bebe-se para que aconteça qualquer coisa"
(Charles Bukowski,Mulheres)

terça-feira, 5 de maio de 2009

Marquês de Sade

Aos Libertinos
(texto do Marquês de Sade)

Voluptuosos de todas as idades e de todos os sexos é a vós apenas que ofereço esta obra: nutri-vos de seus princípios, eles beneficiam vossas paixões, e essas paixões, com as quais os frios e insípidos moralistas vos assustam, são apenas os meios que a natureza emprega para que o homem alcance as intenções que ela tem sobre ele; atentai apenas a essas paixões deliciosas; seu órgão é o único que vos deve conduzir à felicidade.

Mulheres lúbricas, que a voluptuosa Saint-Ange seja vosso modelo; desprezai, a exemplo dela, tudo o que contraria as leis divinas do prazer que a acorrentaram durante toda a vida.

Donzelas cerceadas durante um tempo demasiado longo nos laços absurdos e perigosos de uma virtude fantástica e de uma religião repugnante, imitai a ardente Eugênia; destruí, pisai, com a mesma rapidez que ela, em todos os preceitos ridículos inculcados por pais imbecis.

E vós, amáveis debochados, vós que, desde a juventude, não tendes outros freios senão vossos desejos nem outras leis senão vossos caprichos, que o cínico Dolmancé vos sirva de exemplo; ide tão longe quanto ele se, como ele, quereis percorrer todos os caminhos floridos que a lubricidade vos prepara; deixai-vos convencer ao seu ensino de que apenas ampliando a esfera de seus gostos e de suas fantasias, apenas sacrificando tudo à voluptuosidade é que o infeliz indivíduo conhecido como homem, e lançado a contragosto nesse triste universo, pode conseguir semear algumas rosas nos espinhos da vida.

Marquês de Sade. A Filosofia na Alcova. Tradução de Mary Amazonas Leite de Barros. São Paulo: Circulo do Livro, s/data.

sábado, 11 de abril de 2009

o vento

Soprou e tirou o calor do seu corpo,quase ao mesmo tempo em que fazia a papelada do outro se espalhar no chão.Levando folhas secas para passear e fazendo com que os cabelos dela dançassem como que por vontade própria.
Fez o café dele esfriar,o balão da criança escapar e a franja nos olhos de alguém surgir.
O vestido dela levantou,mas não por muito tempo.
Às vezes alguém tossia com sua presença,ou suspirava.
Conseguia acariciar todos os rostos,levando a flor do cabelo dela ou o suor da testa dele.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Encarando o açucareiro à tarde.
Travaria uma guerra contra todas elas.
Malditas,não as compreendia...como conseguiam ser tão organizadas?Nunca perdiam o foco,sempre juntinhas confabulando (ele sabia que elas confabulavam muitas coisas).
Mudava suas coisas de lugar,seus habitos,já tinha experimentado de todos os tipos de 'soluções' inventadas para combatê-las mas realmente não estava funcionando,matar todas elas pra quê?Sempre vão aparecer outra e mais outra e mais outra..estão por toda a parte e não consiguia se manter longe,elas acabam vindo até ele sozinhas.De longe são todas bonitinhas,pequenininhas,aparentemente inofencivas...agora não tem outra coisa que ocupe a sua mente a não ser o problema que elas me causaram.Dinheiro!O dinheiro que gastou com elas,tenho que dizer...é o que o perturba mais.
Mas tinha que admitir que eram inteligentes,um dos serezinhos mais inteligentes.Sei que com isso ele concordava embora as insultasse sempre,elas davam a volta por cima dele quando quisessem.
A incapacidade de entendê-las o revoltava ao mesmo tempo que a complexidade dos seus atos o encantavam,encantavam tanto que o faziam espumar.

"Malditas formigas",ele repetia fazendo uma barreira de cravos ao redor do açucareiro.

segunda-feira, 6 de abril de 2009

Teoria dos Joelhos

Não sei.Estava agora pouco no banho e me veio à cabeça sobre os joelhos.Não se cita normalmente nada sobre joelhos estéticamente bonitos ou feios,são apenas joelhos.Pensei comigo mesma se conseguiria identificar um joelho bonito,e conclui que não.Aí me perguntei se conseguiria apontar um joelho feio,e eu tive quase certeza de que conseguiria.Tive a visão do joelho feio em minha mente,ossudo,surrado,com algumas cicatrizes de uma infancia bem aproveitada.Não era bonito.E tendo visão de um joelho feio,soube que poderia pensar em um bonito.Ou seja,tive a visão de um extremo e consegui visualizar o outro.Acho que extremos estão sempre ligados um ao outro,se você tem conhecimento de um,você sabe como é o outro.Consegui adaptar esse pensamento em vários outros contextos,não tenho certeza da finalidade...mas achei interessante.
Alias,isso já deve estar escrito em algum livro,algum lugar...alguém já deve ter pensado nisso.Ah,quantas coisas que penso que acabo não escrevendo também...

sábado, 28 de março de 2009

não gosto de pão de queijo

Pessoas estranhas serão sempre pessoas estranhas.E elas existem aos montes,sempre vai ser assim...a não ser que por algum motivo elas deixem de ser estranhas.Tem pessoas que nunca são estranhas,não que eu quisesse me aproximar delas,porque eu não o faço mas elas realmente não são estranhas.Nunca por causa do jeito que elas se vestem,mas por conta do timbre da voz..de enrolar mechas de cabelo nos dedos,pela forma que rói as unhas ou que gasta a sola do tenis.Não classifico todos assim,claro,cada um tem alguma coisa familiar.
Costumo me enganar um pouco sobre essas coisas de pessoas próximas a mim,na maioria das vezes tenho uma impressão boa sobre pessoas que não se parecem nada comigo,mas não importa.De uma forma ou outra acabo conhecendo os que eu não fui com a cara e percebo que somos parecidos.Sinceramente,eu não iria simpatizar comigo mesma se eu não fosse eu.

sábado, 21 de março de 2009

Sempre nos despedíamos assim,com os dedos entrelaçados até que o espaço entre nossos corpos fosse maior do que o comprimento de nossos braços.

sábado, 7 de março de 2009

Odeio fazer visitas forçadas,mas quando é em relação à família a gente precisa fazer um esforço...essa maldita diplomacia que a sociedade impõe.

Ah,fulana virá me visitar hoje,aquele sorriso sínico e a conversa rasa.Acho que nem de cigarros ela gosta,cadê o meu maço?

Aquela chaminé humana,sempre com aquele ar blasé..sei que é minha prima e que e que está desempregada,a coitada não consegue se firmar em emprego nenhum...deve estar se sentindo mal...ou não.É sempre tão fria...

Sempre assim..acontece alguma coisa na vida de alguém e a família toda se comove.Perdi um emprego pela oitava vez,quem liga?Não preciso de apoio moral pra ouvir o mesmo papo de que sou capacitada e consigo outra coisa...ou papos místicos de que "não era pra ser assim..."

Ah,se minha mãe não tivesse insistido tanto...não sei porque,mesmo na infância num me dava tão bem com ela...é aquela visão que os adultos sempre tem,são priminhas e tem a mesma idade...vão brincar de bonecas.

A campainha...deve ser a criatura.

Tomara que não esteja em casa,ou tenha tomado uma overdose de depressivos..por favor por favor por favor.

-Er..Olá,faz tempo hein
-Oii...pois é,vim ver como você estava.

Deus,que casa bagunçada.
Ela num quer mesmo que eu sente nesse sofá,certo?Vou contrair alguma coisa...

Foda-se você dondoca..cadê meu maço de cigarros?

Ah não...cigarros não..lá se vão 25 minutos entre engasgos e preocupação fingida.

Lá se vão 25 minutos de puro regozijo interno e papo banal.

-Foi bom te ver,preciso ir agora...
-Ah...certo.A gente se encontra por aí algum dia.

Ela nem finge gostar da minha presença...porque só eu tenho que ser diplomata nessa merda?

Foda-se dondoca,vai embora.


ah,que alivio.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Estava parada,olhando como sempre.
Ele passou e eu nem sei dizer
o que exatamente me atraiu

O sorriso,pra variar eu comecei a checar os defeitos
como nunca ninguém me parecia interessante
achei que seria da mesma forma
mas eram interessantes

Os defeitos faziam com que ficasse do meu jeito.

Sentou ao meu lado,chegou perto senti seu dedo
em minha bochecha.

Um cílio,eu esquivei e me afastei
me pegou de surpresa,não estou acostumada
não disse nada..só estremeci ele proferiu alguma coisa.
e eu continuei

Em silencio.
e ele também
ficamos assim um tempo,até que me disse que tinha que ir

Era tarde.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

ele sussura toda hora várias coisas,a gente que não ouve.

O vento.
Comprar um banquinho pensando em quantas vezes você vai topar o dedinho nele;anotar coisas na palma da mão pensando em quanto tempo ela vai ficar ali até começar a se desfazer;olhar pra uma calça velha e procurar todos os rasguinhos e desgastes de tempo,imaginando como eles foram acontecendo;contar pintinhas e tentar achar padrões pra elas;dias amarelos;dias cinzas;pensar em analogias filosóficas com pedrinhas jogadas no meio do asfalto;tentar ler o pensamento das pessoas quando cruzam com você na rua;ler expressões;ler movimentos;ter uma calça muito listrada;eu te amo;ver o desgaste das solas do tenis e perceber que ele é maior do lado direito inferior;covinhas;sardinhas;cachinhos;bochechas;chuva;por quantas mãos essa nota já passou?;em que rostos esse vento já bateu?